1900 – Criação do Instituto Soroterápico Federal
Preocupado com a possibilidade de um surto de peste bubônica no Rio de Janeiro, como o que havia ocorrido em Santos, e frente à dificuldade de importação do soro de Yersin, o Prefeito do Rio de Janeiro, José Cesário de Faria Alvim, determinou a criação de um laboratório soroterápico, seguindo a sugestão do Barão de Pedro Affonso, figura importante na introdução da vacina animal no país e proprietário do Instituto Vacínico Municipal. Este Instituto, criado em 1894, era o responsável pela produção da vacina antivariólica e pela distribuição de soro antidiftérico no Rio de Janeiro. O laboratório soroterápico foi, então, instalado na fazenda de Manguinhos, propriedade de 35.000 m2 pertencente à prefeitura. Este local que era distante da cidade foi o escolhido pelo receio da população de contaminação por doenças. Cesário Alvim autorizou a despesa de 90 “contos de réis” para a construção, compra de equipamentos e instalação do novo estabelecimento. O projeto foi apresentado pelo Barão de Pedro Affonso, que era o responsável pela organização e direção administrativa do Instituto Soroterápico Federal e Oswaldo Cruz pela sua direção técnica. A criação deste Instituto teve como modelo o Instituto Pasteur de Paris, embora as duas instituições tivessem encontrado condições bastante diversas para o desenvolvimento de suas atividades.

Fazenda de Manguinhos (1900-1903). Acervo da Casa de Oswaldo Cruz.
1903 – Oswaldo Cruz assume chefia da DGSP
No ano de 1897, pelo decreto n.º 2.449, de 1º de fevereiro, o Instituto Sanitário Federal e a Inspetoria Geral de Saúde dos Portos foram transformados na Diretoria Geral de Saúde Pública subordinada ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores com sede no Rio de Janeiro. A esta instituição competia além de executar os serviços de higiene da União, estudar a natureza, etiologia, tratamento e controle das moléstias transmissíveis, que aparecessem em qualquer localidade do país; propor ao Governo um plano de socorro sanitário que deveria ser prestado a qualquer Estado, em caso de calamidade pública, mediante solicitação do respectivo governo; preparar culturas microbianas atenuadas e soros antitóxicos e curativos, a fim de serem fornecidos às autoridades que os solicitassem; fiscalizar o exercício da medicina e da farmácia; organizar as estatísticas demográfico-sanitárias; dirigir o serviço sanitário dos portos; criar o Código Farmacêutico Brasileiro e, responder às consultas do Governo, prestando as informações solicitadas (art. 2.º). Foi criado um laboratório de bacteriologia que funcionava subordinado à Diretoria (art. 3.º). Para a execução do serviço sanitário dos portos, o litoral foi dividido em três distritos, tendo como sedes: o porto do Rio de Janeiro com o lazareto da Ilha Grande, o porto de Recife com o lazareto de Tamandaré e, o porto de Belém com o lazareto do Pará (art. 5.º). Pelo decreto n.º 2.458 de 10/02/1897, seu regulamento foi aprovado. Sob a gestão do médico sanitarista Oswaldo Cruz (1903-1909) a Diretoria Geral de Saúde Pública teve a incumbência de erradicar a febre amarela, a peste bubônica e a varíola que atingiram a capital no período. O combate a essas doenças se fez por meio de campanhas organizadas contra a febre amarela, de vacinação preventiva da população contra a varíola e do extermínio dos ratos principal vetor de transmissão da peste bubônica.

Oswaldo Cruz em cartoon de 1904. Acervo Casa de Oswaldo Cruz.
1907 – Criação de uma filial em Minas Gerais
A Instituição também passou a atuar fora do Rio de Janeiro. O governo de Minas Gerais propôs a Oswaldo Cruz a criação de uma filial em Belo Horizonte, provendo-lhe verbas anuais. Por solicitação de pecuaristas de Minas Gerais, o Instituto iniciou pesquisas para obtenção de uma vacina contra a “peste da manqueira”, ou carbúnculo sintomático, epizootia que atacava os rebanhos mineiros. A produção e venda dessa vacina possibilitou, em grande medida, a sobrevivência e ampliação das atividades da instituição nos anos seguintes. Situada na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, foi nomeado para dirigi-la o cientista Ezequiel Dias, cuja tuberculose – agravada pela sua estadia em São Luiz do Maranhão, onde instalou o Laboratório Bacteriológico do Estado – requeria o clima mais ameno da capital mineira. A partir de 1906, a filial do Instituto começou a realizar exames de laboratório e passou a fabricar a vacina antivariólica e o soro antiofídico, além de estudar as epizootias e pesquisar a leucemia, o ofidismo e o escorpionismo.

Filial do Instituto Manguinhos do Rio de Janeiro, na Rua da Bahia, em Belo Horizonte com o Palácio da Liberdade, então sede do Governo de Minas Gerais, ao fundo. Imagem: Acervo Funed.
1909 – Descrição da doença de Chagas
Em 1909 o mineiro Carlos Chagas foi responsável por outra importante aproximação de Manguinhos, agora Instituto Oswaldo Cruz (IOC), com Minas Gerais. Combatendo a malária durante as obras do prolongamento da Estrada de Ferro Central do Brasil até Pirapora, MG, o cientista descobriu na vila de Lassance, uma tripanossomíase humana até então desconhecida, causadora de hipertrofias de órgãos internos e transmitida por um inseto chamado “barbeiro”. A descrição da doença de Chagas trouxe prestígio para a instituição, que ali instalou um laboratório, possibilitando que Carlos Chagas e outros colegas pudessem pesquisar e conhecer a nova doença. Pacientes chagásicos de Lassance foram levados para o Hospital Oswaldo Cruz, em Manguinhos.

Belisário Penna, Carlos Chagas. Lassance, Minas Gerais, 1908. Foto: Acervo Casa de Oswaldo Cruz.
1922 – Produção da vacina contra raiva e soro antiescorpiônico
Neste ano a filial do Instituto passou a chamar-se Instituto Biológico Ezequiel Dias. Além das atividades que ela já vinha realizando foi incorporada a produção da vacina contra a raiva e do soro antiescorpiônico. Os trabalhos do diretor Octávio de Magalhães e de Eurico Villela culminaram em uma campanha significativa contra os escorpiões, presentes em grande número na capital mineira. O serpentário do Instituto, utilizado na produção do soro antiofídico, era uma atração turística em Belo Horizonte, chamando a atenção do aluno de medicina Amilcar Vianna Martins, que passou a trabalhar na instituição. Para sua biblioteca, a mais completa da cidade, afluíam médicos, biólogos e estudantes para pesquisar e participar das discussões semanais de artigos científicos.

Sede na rua da Bahia, em Belo Horizonte. Imagem: FUNED.
1936 – Estadualização do Instituto Biológico Ezequiel Dias
Mesmo diante do sucesso do Instituto, existiam problemas a serem enfrentados, como a questão do parco orçamento e a oposição de alguns setores da saúde pública estadual. Na tentativa de resolver essas questões surge a ideia de estadualizar a filial, o que em tese resultaria em maior autonomia financeira, e simbolicamente o Centro passaria a ser uma organização totalmente mineira. O projeto concretizou-se por meio de lei, no dia 13 de novembro de 1936, momento em que Instituto Ezequiel Dias desvinculou-se do Instituto Oswaldo Cruz.

Agora vinculada ao governo de Minas Gerais, a instituição é transferida para a Fazenda Gameleira, longe do perímetro urbano e da avenida do Contorno (1937). Imagem: Acervo Funed.
1944 – Criação do Centro de Estudos da Doença de Chagas em Bambuí
Amílcar Martins estudou a sistemática dos “barbeiros” em Minas Gerais e, juntamente com Emmanuel Dias, do Instituto Oswaldo Cruz, descobriu um importante foco da doença de Chagas em Bambuí, no oeste mineiro. Constataram o inchamento do olho como sinal característico da fase aguda da moléstia, que só se manifesta nos órgãos internos anos depois. Como o interventor de Minas Gerais havia proibido Amílcar Martins de atuar em Bambuí, o IOC criou, em 1944, um Centro de Estudos da doença na cidade e designou Emanuel Dias para dirigi-lo. Ali a doença de Chagas voltou a ser estudada com maior detalhamento, especialmente as cardiopatias dela resultantes.

1949 – Núcleo de Estudos na Faculdade de Medicina
No final da década de 40 o IOC mantinha um pequeno núcleo de estudos em Belo Horizonte, que funcionava na Cátedra de Fisiologia da Faculdade de Medicina e que apoiava as pesquisas de Otávio de Magalhães sobre o tifo exantemático. O IOC enviou para este núcleo, o pesquisador Wladimir Lobato Paraense, que desenvolveu pesquisas sobre malária aviária, leishmaniose da cobaia e focos de transmissão do Schistosoma mansoni. Nas duas décadas seguintes, no entanto, Bambuí foi a principal ligação de Manguinhos com Minas Gerais.

1953 – Criação do Ministério da Saúde e início da construção do futuro Centro de Pesquisas
Em 1953 foi criado o Ministério da Saúde, antiga reivindicação dos médicos brasileiros. O Instituto de Malariologia, que já existia desde 1946 dentro do Serviço Nacional de Malária, funcionava na Cidade das Meninas, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, pesquisando a doença e os métodos para combatê-la, principalmente com o inseticida BHC, que era fabricado pelo Instituto. A política de regionalização das pesquisas das doenças endêmicas nos locais de sua ocorrência, a proposta de criação de centros de pesquisas regionais em todo o país e o encontro em Belo Horizonte do chefe da Divisão de Organização Sanitária do Ministério da Saúde Amílcar Barca Pellon com Amilcar Martins, que na época havia demonstrado que o método de sedimentação das fezes, descrito por Lutz, era o mais adequado para diagnosticar a esquistossomose, resultou no interesse do Ministério em pesquisar a doença e na ideia da criação de um centro de pesquisas na capital mineira. Em terreno doado pela Prefeitura, depois de negociações empreendidas por Amilcar Martins, iniciaram-se, em 1953, na esquina da Avenida Augusto de Lima com Rua Juiz de Fora, no bairro Barro Preto, da capital mineira, as obras do futuro Centro de Pesquisas de Endemias de Minas Gerais.

Prédio histórico. Acervo: Fiocruz Minas.
1955 – Instituto de Malariologia em Belo Horizonte
Como as instalações do Instituto de Malariologia no Rio de Janeiro, dirigido pelo sanitarista René Rachou eram precárias, ele foi transferido, com o apoio de Barca Pellon, Manoel Ferreira e Olímpio Silva Pinto, para Belo Horizonte em 1955. Permaneceram no Rio de Janeiro a fábrica de inseticida e um pequeno núcleo central, enquanto os equipamentos e trinta e cinco funcionários foram instalados no prédio do Barro Preto.
