CPqRR promove seminário sobre febre amarela

02/03/2017

A palavra de nossos especialistas: o essencial sobre febre amarela foi o tema de um seminário realizado na Fiocruz Minas na última sexta-feira (24/2). O evento reuniu trabalhadores e estudantes do CPqRR, além de profissionais que atuam em empresas e instituições localizadas no entorno da unidade. Durante toda a manhã, pesquisadores do CPqRR com atuação em estudos relacionados à doença abordaram uma série de aspectos relevantes para a compreensão do surto. Também esteve presente a superintendente de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e Saúde do Trabalhador do Estado de MG, Deise Aparecida dos Santos, que apresentou dados epidemiológicos e traçou um panorama da situação da doença no Estado. “A ideia deste seminário é promovermos um momento de atualizações acerca da doença e do surto, permitindo-nos aprofundar nossa compreensão em relação ao que está acontecendo. Além disso, convidamos a comunidade do entorno porque acreditamos que, em momentos como este, manter a população bem informada é fundamental para superarmos os problemas”, destacou o vice-diretor de pesquisas do CPqRR, Carlos Eduardo Calzavara. Durante a apresentação, a superintendente de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e Saúde do Trabalhador do Estado de MG mostrou que, nos municípios onde já foram notificados casos da doença, a cobertura vacinal é muito baixa. Dessa forma, uma das ações adotadas pela Secretaria de Estado de Saúde do Estado foi providenciar a vacinação em massa. “Temos, até o momento, registros de casos em 83 municípios situados em regiões onde a taxa de imunização é baixíssima. Na verdade, de forma geral, o Estado tem, em média, 47% de cobertura, o que é um número muito baixa. Foi por isso que uma das primeiras medidas adotadas foi a busca ativa, com profissionais de saúde indo a regiões mais afastadas para vacinar as pessoas”, explicou. De acordo com a superintendente, apenas entre as crianças com idade entre 1 e 9 anos as taxas de imunização são positivas, sendo superiores a 100%. Segundo ela, isso mostra que a vacina é, de fato, eficiente, uma vez que, até o momento, todos os casos ocorreram em adultos. “A faixa etária com maior número de registros situa-se entre 50 e 59 anos. Já a taxa de letalidade, em todas as faixas, chega a 35,5%, indicando que a doença é realmente muito séria”, salientou. Vírus e características- O pesquisador Pedro Augusto Alves, do Grupo de Imunologia de Doenças Virais, falou sobre as principais características do vírus causador da febre amarela. Segundo ele, trata-se de um arbovírus do gênero flavivírus, que abrange 70 tipos diferentes vírus, entre eles os causadores da dengue, zika, chicungunya,febres hemorrágicas, encefalites e várias outras doenças. “ Por serem do mesmo gênero, são vírus com características semelhantes e, dessa forma, os sintomas da febre amarela são também parecidos com os das demais doenças causadas por flavivirus. Os principais sinais são dores articulares e atrás dos olhos, náuseas, vômitos e manchas avermelhadas pelo corpo”, afirmou. O pesquisador explicou que, nas matas, a doença –em sua forma silvestre- é transmitida por mosquitos do gênero Haemagogus. Ao picar o macaco, o mesmo adoece e torna-se uma fonte de transmissão do vírus para outros mosquitos que, infectados, podem picar o homem que entra em contato com a área de transmissão. Já na cidade, a doença é transmitida pelo Aedes aegypti. Segundo ele, desde 1942, o Brasil não registra casos de febre amarela urbana. Pedro ressaltou que a área de circulação do vírus da febre amarela, considerada de risco transmissão para seres humanos, vem crescendo de forma progressiva desde 2000. “O processo de desmatamento com consequente desequilíbrio ambiental, aliado ao aumento do ecoturismo e da construção de moradias em áreas próximas a matas, tem contribuído para isso, com registros de surtos a cada cerca de 7 anos”, ressaltou. A doença- A ação da febre amarela no organismo humano foi tema da palestra do médico infectologista Marcelo Pascoal, do Grupo de Pesquisas Clínica e Políticas Públicas em Doenças Infecciosas e Parasitárias. Ele afirmou que o fígado é um dos órgãos afetados que mais contribuem para o agravamento da doença. “A disseminação do vírus dentro do fígado é muito rápida. Ao atingir o órgão, ocorre uma degeneração das células vivas que tentam responder às agressões”, explicou. Além do fígado, também são acometidos o coração, os vasos e o rim. De acordo com o médico, o paciente deixa de fabricar bilirrubina, ficando com a cor amarelada, sendo esse um dos fatores que dão nome à doença. “ É, sem dúvida, uma doença grave que, embora não tenha tratamento específico, deve ser rapidamente diagnosticada. A descentralização no atendimento e o reforça da infraestrutura disponível são os principais desafios no enfrentamento da doença”, avaliou. Prevenção- Em todas as apresentações, os palestrantes destacaram que a vacina é a principal forma de se proteger contra doença. O pesquisador Olindo Assis Martins Filho, do Grupo Integrado de Pesquisas em Biomarcadores, lembrou que a vacina está disponível gratuitamente nos postos de saúde, durante todo o ano. Ele destacou que a vacina contra a febre amarela é extremamente segura, sendo o Instituto Bio-Manguinhos (Fiocruz/RJ) um dos principais fabricantes. “É uma das vacinas mais eficientes do mundo. Em termos de eventos adversos, temos 1 a cada 400 mil doses aplicadas. E o Brasil é um dos principais fornecedores e, portanto, não há o menor risco de falta de vacina. Temos capacidade de vacinar a população do país inteiro, se necessário”, afirmou. De acordo com o pesquisador, para os residentes em área de risco, recomenda-se, para crianças, a administração de uma dose aos 9 meses de idade e um reforço aos 4 anos. Para pessoas a partir de 5 anos de idade que receberam uma dose da vacina, é necessário um reforço; para quem que nunca foi vacinado ou não possui comprovante de vacinação, é preciso administrar a primeira dose da vacina e um reforço após 10 anos. Pessoas que já receberam duas doses da vacina ao longo da vida já são consideradas protegidas. “ As pessoas que forem viajar para regiões endêmicas devem se vacinar pelo menos 10 dias antes do deslocamento. Além disso, é importante lembrar que a vacina contra a febre amarela não deve ser aplicada no mesmo dia que outras vacinas, como Tetravalente e Tríplice Viral”, destacou.

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