Zélia Profeta é reconduzida ao cargo de diretora
Uma reflexão sobre a conjuntura e os desafios para a saúde e para a Fiocruz marcou a cerimônia de recondução de Zélia Profeta ao cargo de diretora do Instituto René Rachou (IRR). O evento, realizado na última quinta-feira (6/7), contou com a presença da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, do chefe de gabinete, Valcler Rangel, do vice-presidente de Gestão e Desenvolvimento Institucional, Mário Moreira, do vice-presidente de Pesquisa e Coleções, Rodrigo Correa, e do diretor da Fiocruz Amazônia, Sérgio Luiz Bessa. Também esteve presente o especialista em avaliação de políticas públicas Rômulo Paes, que ministrou uma palestra sobre os impactos da crise política e econômica sobre a prestação de serviço público.
Abrindo as atividades, a diretora Zélia Profeta que a Fiocruz, como instituição que se coloca a serviço da vida, tem o dever de discutir a conjuntura que se apresenta e, principalmente, de pensar no futuro e propor caminhos para resistir a esse momento de dificuldades, fortalecendo-se com instituição de saúde pública.
“ Durante a campanha, procurei atrelar meus compromissos com a unidade aos 13 compromissos assumidos pela Nísia em relação à Fiocruz. E um dos compromissos é trabalhar para o fortalecimento do SUS e do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia. Dessa forma, nada mais apropriado aproveitar a oportunidade para promovermos essa discussão, fazendo desse encontro um momento de celebração e também de reflexão. Por ser minha última posse, também quis fazer deste momento uma atividade mais interna. Meu agradecimento a todos os presentes”, declarou Zélia.
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, enfatizou a importância do diálogo com o público interno e também com a população. Segundo ela, há no país uma crise de credibilidade nas instituições e na política e, para superar essa situação, é preciso transparência e um debate constante com a sociedade. Para Nísia, a discussão acerca do orçamento, por exemplo, não é apenas uma questão interna, de distribuição de recursos entre as unidades, mas também uma discussão externa, já que redução de gasto público pode significar desmonte e, dessa forma, um desserviço prestado.
“Esse é um debate central que deve ser feito juntamente com a sociedade brasileira também. Dessa forma, é preciso trabalhar com foco, finalidade, tentando cumprir com os compromissos firmados em campanha por meio de uma construção coletiva e com a consciência de que vivemos um momento delicado”, afirmou. “Apesar das dificuldades, a Fundação não está paralisada e sinto que há uma esperança por parte das pessoas no poder de realização da Fiocruz. A Fundação já passou por vários reveses e conseguiu superar; acredito que não será diferente agora”, destacou.
Ações- Nísia também apresentou as principais atividades da Fundação, mostrando o caminho que vem sendo trilhado. Entre os destaques, a presidente citou a atuação da Fiocruz em relação ao enfrentamento da febre amarela e da emergência do Zika vírus e ainda o reconhecimento da instituição como escola de governo. Ela lembrou também o papel da Fundação no combate à violência, enfatizando a importância de que as unidades repensem em suas relações com a cidade em que cada uma atua.
A presidente, que decretou 2017 como o Ano Oswaldo Cruz – em lembrança ao centenário da morte do patrono da Fundação-, falou sobre as atividades que serão realizadas, entre elas uma sessão solene no Congresso Nacional no mês de agosto. Nísia também destacou a participação ativa da Fiocruz no Movimento Ciência sem Cortes, liderado pela Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC)
“ Nosso objetivo é fazer uma travessia por esses tempos difíceis com unidade, com norte, preparando-nos para os desafios”, afirmou.
O vice-presidente de Pesquisa e Coleções, Rodrigo Correa, parabenizou a diretora do IRR por mais um mandato, lembrando que Zélia foi uma parceira importante quando esteve à frente da unidade. “Estar em casa hoje para essa comemoração é, sem dúvida, muito gratificante”, destacou.
O vice-presidente de Gestão, Mario Moreira, lembrou que, durante a campanha da Nísia à presidência da Fiocruz, conversou bastante com Zélia e aprendeu muito sobre a diversidade da Fundação. “Em minha primeira visita a esta regional, quero desejar que o IRR continue sendo esta unidade produtiva e reforçar que, este ano, apesar dos cortes e dificuldades, vamos garantir que todas as unidades possam desempenhar suas atividades”, revelou.
O chefe de gabinete da Presidência, Valcler Rangel, falou sobre a relação de parceria desenvolvida com o IRR nos últimos anos, lembrando alguns momentos de dificuldade em que esteve próximo da unidade, como no crime da Samarco e no enfrentamento das arboviroses. “ Estarmos unidos no enfrentamento dessas crises nos fez mais fortes. Não desejo crises, mas desejo ter oportunidades de estar bem próximo da Fiocruz Minas”, declarou.
Palestra- O especialista em avaliação de políticas públicas Rômulo Paes encerrou as apresentações, com a palestra Vivendo e morrendo com menor renda, menor proteção social e maior privação material: efeitos da recessão econômica (e seus remédios) sobre a saúde. Paes, que foi aprovado no último concurso da Fiocruz e em breve tomará posse no IRR, analisou situações de crise em diversos países e constatou que esses momentos de instabilidade produzem efeitos diferentes e variados.
“A crise se apresenta de forma distinta nos países produzindo efeitos distintos. As respostas econômicas são diferentes, as medidas de enfrentamento são diferentes e, por isso, o resultado é também diferente”, explicou.
De acordo com o especialista, o impacto da crise pode incidir não apenas à renda, mas há um efeito combinado dentro do domicílio – onde diminui a capacidade das pessoas de adquirir bens e serviços- e fora dele –onde diminuem os investimentos em serviços públicos.
“Isso, é claro, tem um impacto na saúde. Na Europa, por exemplo, a crise econômica e as medidas de austeridade sobre a saúde da população refletiu em aumento de pessoas com depressão, ansiedade, alcoolismo e doenças transmissíveis (como HIV). Há também registros de aumento de casos de suicídio, bem como de uma percepção negativa por parte das pessoas em relação ao estado de saúde”, contou.
No que diz respeito à América Latina, Paes constatou que, em situações de crise profunda, conseguiu ganhar mais quem já tinha dinheiro. No México, por exemplo, a análise mostrou que investir em criação de empregos, apostando apenas na recuperação do mercado, não foi suficiente, já que um dos principais problemas foi a precarização do trabalho, com salários baixos e falta de proteção social. O México, hoje, é um dos líderes no ranking de desigualdade social.
E no Brasil? Segundo o especialista, os impactos começam a ser sentidos a partir deste ano, com as atividades públicas paralisadas em várias áreas. Ele ressalta que, para definir a questão do gasto social, o mais importante é estabelecer onde cortar e o que preservar. “Esse discurso de fazer mais com menos não é real. É preciso então fazer a pergunta: essa medida é boa para quem?”, finalizou.