05/02/2024
O estigma enfrentado por pessoas devido a alguma doença ou deficiência, a importância do acolhimento nos serviços de saúde, a necessidade de ações intersetoriais no Sistema Único de Saúde (SUS). Essas foram algumas das questões discutidas em uma roda de conversa que reuniu integrantes do grupo Saúde, Educação e Cidadania (SEC), da Fiocruz Minas, e fisioterapeutas do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde, desenvolvido pela Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte. Realizado a convite da tutora da residência, Aline de Morais, o debate ocorreu nessa quinta-feira (1º/2), após a exibição dos documentários Toda forma de ser, que mostra as trajetórias de mães de crianças com microcefalia causada pelo Zika vírus, e Sobre VHIVivências, que aborda as experiências e desafios de pessoas que vivem com o vírus HIV, ambos lançados pelo SEC no ano passado.
“Os filmes retratam questões de saúde a partir do olhar de pessoas que usam o SUS, deslocando as (os) profissionais da visão técnico-científica que, geralmente, é priorizada no cotidiano dos serviços de saúde”, afirma a pesquisadora Paloma Coelho, diretora do documentário Sobre VHIVivências. “Ambos os documentários demonstram a importância do SUS para a sociedade brasileira e também visibiliza o que não é dito, e sim sentido pelos usuários no seu itinerário de cuidado. Essa visibilidade mobiliza para aprimoramento do sistema de saúde”, destaca a também pesquisadora Berenice de Freitas Diniz, diretora do filme Toda forma de ser.
De acordo com as pesquisadoras, ao se emocionarem com as histórias contadas nos dois documentários, as (os) residentes puderam repensar a relação com as pessoas e demandas que surgem na sua vivência de trabalho, passando a considerar outros aspectos que influenciam nas condições de saúde e na (não)adesão aos tratamentos e medidas de prevenção. Também fizeram parte das reflexões a importância de oferecer uma escuta qualificada às pessoas que buscam atendimento e a necessidade urgente de repensar as práticas para seguir protocolos e normas, de forma a garantir um cuidado singular a cada paciente.
Outro aspecto mencionado durante a roda de conversa foi o uso dos filmes como estratégia para a sensibilização, por se tratar de uma linguagem que permite entrar em contato com outras experiências e perspectivas de uma forma bastante profunda. “Um dos apontamentos feitos é que os documentários chamam para a reflexão e conseguem dar a dimensão do cuidado para além dos muros dos serviços de saúde”, diz Berenice. “Nós, como pesquisadoras, ficamos felizes com a possibilidade de utilizar esses filmes para discutir questões tão importantes para os serviços de saúde”, destaca Paloma.
Além de serem apresentados aos serviços de saúde, os documentários também vêm sendo exibidos em escolas e congressos. Os interessados em realizar discussões coletivas podem entrar em contato com o grupo, pelo e-mail sec.minas@fiocruz.br ou pelo telefone (31) 3349-7730.
Sobre os documentários:
Sobre Vhivências : Com direção de Paloma Coelho e Raul Lansky, o documentário Sobre Vhivências mostra a rotina de três pessoas que vivem com o HIV: uma mulher, uma travesti e um homem. São vivências, olhares e perspectivas diferentes, possibilitando mostrar as diversas nuances que envolvem uma mesma condição. “Em seus depoimentos, elas falam sobre as dificuldades enfrentadas desde que receberam o diagnóstico e tocam muito na questão do desafio de se manter o tratamento, que é algo que vai muito além de ter acesso aos medicamentos. Envolve a questão dos efeitos colaterais, a vergonha de frequentar uma unidade de saúde voltada para o público com HIV, a necessidade de esconder que fazem uso desses medicamentos. Então, o documentário é um registro que mostra como elas vivenciam esses e outros aspectos”, explica Paloma. Além dos relatos pessoais, o documentário traz também um monólogo, apresentado por outro personagem, interpretado por um ator. Por meio de um texto emocionante, de sua autoria, ele conta histórias de diferentes pessoas que vivem com HIV/Aids.
Toda forma de ser*: Neste documentário, histórias de mulheres, de várias idades, atravessam a narrativa, compondo um painel e uma abordagem do tema instigantes, mostrando como o zika vírus e seus danos e agravos, como a microcefalia, trouxeram uma série de novos arranjos para milhares de famílias brasileiras, lançando desafios para os campos da saúde coletiva e o SUS. Mulheres e mães emergiram como atores potentes neste estado de coisas. O filme é um dos produtos gerados pela pesquisa desenvolvida por Berenice, durante o seu doutorado, concluído em 2021. Intitulado Estudo de Acompanhamento de um Grupo de Mães de Crianças com Microcefalia em Minas Gerais: da mobilização, organização, às reivindicações de direitos no contexto de Zika, o trabalho teve por objetivo acompanhar um grupo de mulheres mães de crianças com microcefalia, em Minas Gerais, nos anos de 2018 e 2019. “Desde o início desse projeto, todos nós fomos afetados pelas necessidades advindas dessas mulheres/crianças, desse grupo e de suas famílias. O trabalho nos mostrou, mais do que nunca, que um Estado de Proteção Social deve ser para cuidar e proteger a vida de todas as pessoas, mas principalmente das mais vulneráveis”, destaca Berenice. (*Com informações do Icict)
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