Global Health Histories Seminar: especialistas discutem desastres provocados pela mineração
Desastres Ambientais e Saúde: a experiência de Mariana e Brumadinho foi tema do 134º Global Health Histories Seminar [Seminário sobre as Histórias da Saúde Global], realizado na Fiocruz Minas, na última segunda-feira (23/9). O evento, que desde 2004 vem sendo promovido em diversas cidades do planeta, busca refletir acerca de questões relevantes para o território onde está sendo sediado. O pesquisador Sanjoy Bhattacharya, diretor do Centro de Histórias Globais de Saúde da Universidade de York acompanhou as discussões.
“Essa é uma atividade que roda o mundo e se baseia na ideia de que o entendimento da história da saúde pode nos ajudar a lidar com os problemas atuais. Em Belo Horizonte, é a primeira vez que o seminário acontece, e as discussões realizadas aqui vão integrar um grande banco de dados da Organização Mundial de Saúde. Nossas reflexões serão utilizadas como material de ensino para a formação de dirigentes e demais atores da OMS”, destacou a pesquisadora Denise Nacif Pimenta, organizadora do evento no IRR, durante a abertura.
O pesquisador Léo Heller abriu as apresentações, abordando o tema desastres sob a perspectiva dos direitos humanos. Ele destacou o papel dos megaprojetos e como eles podem afetar a garantia desses direitos. Segundo Heller, megaprojetos são empreendimentos que utilizam grandes extensões de terra, por longo período de tempo, gerando impacto na qualidade da água e no deslocamento das pessoas que, em função do megaprojeto, precisam buscá-la em outros locais. É o caso das empresas de mineração.
“Os megaprojetos geralmente requerem outros megaprojetos, gerando um efeito cumulativo na mesma região. Hoje, são realizados de forma que não garantem às populações locais condições de discutir e de participar das decisões. Muitas vezes, são grandes multinacionais tratando com pequenas comunidades indígenas”, afirmou. O pesquisador também destacou que, quando terminam as operações, os empreendedores de megaprojetos têm pouco interesse em investir na região onde atuou, gerando tragédias como as provocadas pelo rompimento de barragens de mineração recentemente.
Para finalizar, Heller fez alguns questionamentos sobre a questão das mineradoras e concluiu que há algo extremamente sério acontecendo no país. “Que as tragédias sirvam de lições”, destacou.
A pesquisadora Regina Horta, do Departamento de História da UFMG, falou sobre a situação dos animais diante de desastres ambientais. Segundo ela, os animais são coprodutores da história humana. São eles que ajudam o homem a estabelecer relações de confiança, de segurança; ajudam a criar laços de compaixão, de solidariedade. Em situações de desastre, são espécies diferentes -já que o homem também é animal- dividindo a mesma dor. Para Regina, isso explica o sofrimento das pessoas diante da perda de seus animais.
“A perda dos animais aprofunda o estresse pós-traumático e os estágios de depressão das pessoas. E isso, às vezes, não é levado em consideração por quem vai dar assistência. Mas, para além da dor humana, é preciso fazer ainda uma outra reflexão: a de que os animais devem ser considerados por si próprios. Os animais são sujeitos de direito”, salientou.
O pesquisador Guilherme Franco Neto, especialista em saúde, ambiente e sustentabilidade, falou sobre como o Estado brasileiro se organiza para o enfrentamento de desastres. Segundo ele, um marco regulatório que data de 2012 estabeleceu uma política de proteção e defesa civil, tendo por objetivo cobrir diversos aspectos, como prevenção, resposta, mitigação de danos, recuperação, bem como integração com sustentabilidade.
“A saúde se organiza de maneira interfederativa, ou seja, com o envolvimento dos três entres federais: União, Estado e Município. E as ações são vinculadas a diversas outras áreas, para além da esfera da saúde’, explicou Guilherme, lembrando que a Fiocruz é uma das instituições de saúde que vem atuando de forma decisiva em situações de calamidade.
Ainda de acordo com o pesquisador, é preciso deixar claro que os desastres não são episódios descontinuados. Eles fazem parte de um contínuo, e, tendo em vista a situação do país, a pergunta não é se eles vão acontecer, mas onde vão ocorrer. Guilherme lembrou também que, das 19 barragens classificadas como alto risco, 12 estão localizadas em Minas Gerais.
O pesquisador Sanjoy Bhattacharya encerrou as atividades, agradecendo a todos pela participação e ressaltando que tais discussões são extremamente importantes para o trabalho desenvolvido pela OMS e Universidade de York.