Fiocruz Minas abre Semana de Direitos Humanos com os temas juventude e cidadania
Um debate com a presença de profissionais que desenvolvem trabalhos voltados para a juventude e para o fortalecimento da cidadania abriu, nessa segunda-feira (27/11), a 1º Semana de Direitos Humanos da Fiocruz Minas. Estiveram presentes a gerente-executiva do Centro de Referência da Juventude de Belo Horizonte, Samira Ávila; o representante da Secretaria de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania, Ricardo Teixeira; o assessor das vereadoras de Belo Horizonte Áurea Carolina e Cida Falabella, Du Pente; e o representante do Levante da Juventude, Marco Gatti. A pesquisadora Celina Modena, do grupo de Políticas Públicas e Direitos Humanos em Saúde e Saneamento do IRR, moderou as atividades. O vice-diretor de pesquisas da unidade, Carlos Eduardo Calzavara, representou a direção do IRR, dando boas-vindas aos participantes.
“Agradecemos a todos os convidados –debatedores e plateia- pela disponibilidade de estar aqui hoje, discutindo esse tema tão importante, que é a questão dos direitos humanos, com foco na juventude. É a primeira edição desse evento e espero que, agora, venham muitos outros”, afirmou Calzavara, que também leu uma mensagem deixada pela vice-diretora de Ensino, Cristiana Brito, que não pode estar presente.
A gerente-executiva do Centro de Referência da Juventude (CRJ) de Belo Horizonte, Samira Ávila, falou sobre a criação desse espaço, que é o primeiro aparelho público direcionado especificamente para o segmento jovem em Minas Gerais, tendo como objetivo promover atividades de cultura, lazer, esporte, educação, formação profissional, dentre outras. Samira destacou os desafios de implantar um espaço dessa natureza, promovendo a inclusão e contemplando as diversidades.
“Não é possível pensar numa política voltada para a juventude sem pensar em questões como etnia, classes sociais, culturais, religiosas. Dentro de uma cidade como Belo Horizonte, o jovem do Taquaril é diferente do jovem do Barreiro. É preciso levar em consideração essas diferenças”, afirmou a gerente.
Segundo Samira, o processo de criação do centro passou por muitas turbulências, sendo necessário superar diversos conflitos. Um fator decisivo para que o projeto se concretizasse com o envolvimento do público a que se destina foram as ocupações ocorridas em uma série de espaços públicos, no ano passado, quando a sede do CRJ foi ocupada pela juventude.
“Antes das ocupações, havia um projeto em que o CRJ se transformaria simplesmente em um loteamento, sem nenhuma participação da juventude. Mas, com as ocupações, o Ministério Público fez uma intervenção e instaurou um inquérito civil”, contou. Assim, o CRJ se tornou um projeto com ações participativas.
O representante da Secretaria de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (Sedpac), Ricardo Teixeira, fez uma retrospectiva dos últimos anos, apontando os principais avanços em relação à redução da desigualdade e à defesa dos direitos humanos, bem como os retrocessos ocorridos, especialmente nos últimos dois anos.
“Um das principais agressões aos direitos humanos e à juventude é a redução da maioridade penal, que deve ser votada no ano que vem. Essa proposta nada mais é do que a punição das consequências geradas pelo que o Estado não faz”, disse.
O publicitário Dú Pente, assessor das vereadoras Áurea Carolina e Cida Falabella, falou sobre as consequências da falta de políticas públicas voltadas para a juventude, especialmente para a juventude negra. Ele ressaltou a importância de romper com modelos e pensamentos pré-estabelecidos.
“ Não dá para falar em igualdade apenas por ter sido criado um sistema de cotas que colocou mais negros na universidade. O número de negros na universidade aumentou sim, o que é um avanço, mas não dá para deixar de falar que aumentou muito mais o número de negros encarcerados”, destacou. “O período pós-abolição é marcado pelo genocídio da população negra, sobretudo da juventude, por falta de políticas públicas. O “juvenicídio” é uma herança dos processos imperais e do colonialismo”, salientou.
Representante do Levante Popular da Juventude, Marco Gatti destacou que o fato de a sociedade brasileira estar vivendo um período de disputa ideológica faz com que movimentos como o LGBTS deixe de avançar. “Esse aumento do conservadorismo se dá porque a sociedade está em disputa”, afirmou.
Gatti reforçou a necessidade de se engajar e perseverar na luta. “No mundo do trabalho, por exemplo, passa-se a ideia de que não é preciso se organizar. No entanto, isso é necessário, sendo os sindicatos extremamente importantes. Sem luta, sem mostrar que temos força, nada acontece”, ressaltou.