Pesquisa da Fiocruz Minas é finalista em programa que busca soluções para demandas reais da sociedade

19/09/2016

Um projeto desenvolvido pelo Grupo Integrado de Pesquisas em Biomarcadores da Fiocruz Minas e liderado pelo pesquisador Olindo Assis Martins Filho é um dos finalistas do BioStartup Lab, um programa promovido pela empresa Biominas e Sebrae-MG , que visa apoiar profissionais da área científica, ajudando a transformar os resultados de pesquisas em soluções concretas para problemas da sociedade.  O estudo, que está entre os 15 classificados devido à capacidade de oferecer resposta para uma dificuldade real, propõe um teste para diagnóstico sorológico diferencial, capaz de eliminar reações cruzadas existentes nos testes convencionais para detecção da doença de Chagas e leishmanioses, oferecendo mais exatidão nos resultados de exames. “Os parasitos causadores dos dois tipos de leishmanioses (tegumentar e visceral) –chamados leishmanias- e o tripanossoma, que causa a doença de Chagas, contêm proteínas similares em sua superfície. Com isso, os testes sorológicos disponíveis hoje podem apresentar reatividade cruzada, fazendo com que os resultados possam ser inconclusivos. É nesse sentido que o método que apresentamos atua, ou seja, esclarece, por meio de um único ensaio, a presença de reatividade específica contra o agente da doença”, afirma Andréa Teixeira de Carvalho, pesquisadora do Grupo de Pesquisas em Biomarcadores. Intitulada “Diagnóstico Diferencial Sorológico de Doença de Chagas, Leishmaniose tegumentar e leishmaniose visceral”, a pesquisa propõe a TecnologiaTriplex, um kit para a realização dos testes. O método consiste na análise da reatividade sorológica diferencial, por meio da utilização simultânea de parasitos causadores das doenças numa reação de imunofluorescência indireta, empregando um sistema de revelação mais sensível e específico e que será analisado em citômetro de fluxo. A tecnologia foi desenvolvida com o apoio da Fundação Hemominas, Fundação Pró-Sangue, Unimontes e Universidade Federal do Espírito Santo e teve financiamento da Fiocruz, CNPq, Programa Inventiva-Fapemig e Programa de Incentivo à Inovação- Sectes-MG. Para ter certeza de que o kit é realmente eficaz, os pesquisadores fizeram testes de validação. Para isso, aplicaram o novo método em amostras com resultados já conhecidos e, em 99% dos casos, houve coincidência de diagnóstico. Os testes foram realizados com amostras provenientes do Hemominas, unidade de Montes Claros, região endêmica para as três doenças, e na Fundação Pró-Sangue, de São Paulo. Hemocentros- Segundo a pesquisadora, o novo método poderá solucionar uma das questões que mais causam transtorno para os hemocentros, que é o descarte de bolsas de sangue, devido à inexatidão dos exames sorológicos. Atualmente, muitos testes apontam resultados inconclusivos e, por segurança, os bancos de sangue são obrigados a inutilizar as bolsas. “Por ano, são descartadas no Brasil cerca de 130 mil bolsas de sangue, devido aos resultados falso-positivos. Isso acontece especialmente em regiões endêmicas, onde é comum que a pessoa tenha tido algum contato com o parasito, sem, entretanto, ter sido infectada”, explica Andréa. Segundo ela, isso causa um prejuízo anual estimado em torno de 40 milhões de reais ao Sistema Único de Saúde. “Além do mais, se considerarmos que cada bolsa de sangue contém material que pode salvar quatro vidas, com os descartes que acontecem hoje, estamos deixando de salvar 500 mil vidas”, avalia. Como o kit foi desenvolvido a partir de uma demanda dos bancos de sangue, a metodologia prevê a automação dos testes, permitindo fazer uma grande quantidade de exames de uma única vez. Os resultados saem em 24 horas. BioStartupLab- No momento, a tecnologia Triplex está na fase de captação de parceiros, de forma que o kit possa ser produzido. Nessa busca por possíveis parcerias, a atuação do BioStartup Lab é fundamental. “Nosso objetivo é contribuir para que os autores dos projetos consigam ajustar seus trabalhos às demandas já existentes. Procuramos identificar potenciais problemas e quais seriam as soluções, avaliando, ainda, maneiras de deixar os projetos financeiramente rentáveis, de forma a atrair parceiros”, explica Thiago Veloso, agente de aceleração do BioStartup. A pesquisa da Fiocruz Minas concorreu com outros 450 trabalhos. Na primeira fase, iniciada em junho, foram selecionados 21 estudos, cujos autores participaram de um curso com duração de dois meses, em que aprenderam metodologias e ferramentas específicas para tornar o projeto atraente aos olhos do investidor. Para esta segunda etapa, rodada que tem como foco a busca por parcerias, participam apenas 15 projetos. “O estudo da Fiocruz foi classificado justamente por atender a uma demanda real. Esse é o nosso principal critério”, diz Veloso. Segundo ele, para que o BioStartup possa chegar a esses projetos com potencial, o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) de cada instituição tem um papel primordial. “O NIT é a porta de entrada do BioStartup, uma vez que faz a ponte entre os pesquisadores e o programa, ligando as iniciativas do BioStartup às diversas iniciativas existentes dentro da instituição.  O NIT  nos ajuda a avaliar as pesquisas, apontando aquelas que mais oferecem possibilidades conforme o estágio de desenvolvimento em que elas se encontram. Nesse sentido, o NIT do CPqRR teve um papel preponderante”, destaca. Para a pesquisadora Andréa Teixeira, a participação no BioStartup tem trazido contribuições valiosas, que ajudam a aprimorar a proposta. “São orientações relevantes que vêm tanto por parte dos profissionais do BioStartup quanto por parte de nossa equipe do NIT. Além disso, recebemos total apoio da direção do CPqRR”, ressalta. Liderada por Andréa Teixeira, a equipe Triplex no Biostartup Lab conta com a participação da coordenadora do NIT,  Ana Paula Granato, da pós-doutoranda Fernanda Fortes e da bolsista de Iniciação Científica Isabela do Vale. O encerramento do BioStartup Lab acontece no início de outubro, quando haverá um evento para a apresentação dos projetos e premiação dos três primeiros colocados.   Texto: Keila Maia Foto: Grupo Integrado de Pesquisas em Biomarcadores

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