A Fiocruz Minas, em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Minas Gerais (Cosems-MG), realizou, nos dias 12 e 13 de setembro, o 2º Seminário Estadual de Arboviroses, que teve por objetivo aprofundar a discussão sobre a preparação e resposta ao enfrentamento das arboviroses no estado de Minas Gerais no período sazonal, compreendido entre novembro de 2024 a maio de 2025. O evento contou com a presença de cerca de 500 pessoas, entre representantes de todas as subsecretarias da SES-MG do nível central, das superintendências e escritórios regionais de saúde, bem como profissionais da assistência à saúde das microrregiões de saúde e municípios do estado.
Durante a abertura do seminário, o subsecretário de Vigilância em Saúde da SES-MG, Eduardo Prosdocimi, destacou a importância do evento e da parceria SES-Fiocruz. “É uma alegria estarmos aqui reunidos, preparando-nos com antecedência para enfrentarmos as arboviroses durante o período sazonal. Como trabalhadores de saúde, não podemos esquecer o nosso papel, que é salvar vidas. E eu conto demais com a Fiocruz nesse processo e reforço que a Fiocruz tem que ser nossa parceira preferencial. Agradeço a presença de todos e que a gente possa sair daqui com condições de oferecer serviços cada vez melhores”, disse.
O diretor da Fiocruz Minas, Roberto Sena Rocha, ressaltou que a Fiocruz tem como missão contribuir para que o Sistema Único de Saúde (SUS) possa dar respostas às demandas da população. “Tivemos recentemente um edital, que foi resultado de um encontro com a SES-MG, e já temos seis projetos de pesquisa aprovados, voltados para dar respostas aos problemas de saúde do estado. E, agora, para atuar no enfrentamento das arboviroses no próximo período sazonal, a SES pode continuar contando com a Fiocruz, estamos à disposição”, afirmou.
O oficial nacional em arboviroses da Organização Pan-americana da Saúde (Opas), Carlos Frederico Campelo, salientou que as respostas para a saúde se dão em nível local e que as ações realizadas em Minas Gerais podem servir de exemplo para outros lugares. “Minas Gerais é um estado com dimensão continental e municípios com realidades bastante diversas. As experiências que ocorrem aqui podem ecoar para outras regiões”, disse.
A diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde (SVSA/MS), Alda Maria da Cruz, destacou que o Ministério da Saúde está imbuído do espírito do SUS de trabalhar conjuntamente. Ela enfatizou a importância de introduzir novas estratégias de controle vetorial, que estejam de acordo com a realidade de cada município. “Precisamos, também, aumentar nossa capacidade de interação com a população. Nesse sentido, o eixo comunicação é muito importante. É preciso trazer as pessoas para participar, mas sem culpá-las pela alta de casos de arboviroses”, afirmou.
A coordenadora de Vigilância e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Tânia Fonseca, lembrou que, durante a avaliações de necessidades dos municípios mineiros em relação a arboviroses, constataram-se muitas demandas semelhantes, mas também muitas diferenças. “Minas é um estado muito diverso, com regiões e necessidades diferentes. E, se a gente não acolher essa diferença, não faz uma preparação adequada. E, para atender às diferentes demandas, as parcerias são fundamentais. Nenhum de nós detém o conhecimento isoladamente e nenhum de nós pode atuar sozinho. Cada um de nós é uma peça importante, juntos somos mais fortes”, ressaltou.
O presidente do Cosems, Edivaldo Farias, falou sobre a importância de se preparar para o período sazonal com antecedência e destacou a participação de representantes dos municípios. “É muito importante estarmos aqui hoje para pensar juntos e traçar metas. Temos o orgulho de dizer que Minas Gerais está saindo na frente nessa preparação. E é também motivo de alegria ver esse auditório cheio, pois sem os municípios não conseguimos avançar e atingir nosso objetivo de cuidar da população”, disse.
A secretária de Estado Adjunta de Saúde de Minas, Poliana Lopes, destacou a necessidade de aprender com os desafios e de compartilhar as experiências. “Temos revisado o que vem sendo feito e estamos aprendendo com os desafios. Este seminário é mais uma demonstração de que estamos juntos”, ressaltou.
Também participaram da mesa de abertura o subsecretário de Regionalização da SES-MG, Renan Guimarães de Oliveira, e a superintendente de Atenção Primária à Saúde da SES-MG, Camila Helen de Almeida Silva, que enfatizaram a importância do trabalho integrado.
Panorama- A primeira mesa do dia foi mediada pelo subsecretário de Vigilância em Saúde da SES-MG, Eduardo Prosdocimi, tendo como tema o cenário epidemiológico das arboviroses e perspectivas para 2025. A superintendente de Vigilância Epidemiológica da SES, Aline Lara, falou sobre a situação em Minas Gerais. Ela destacou que, desde a primeira semana de 2024, o número de casos de dengue foi bastante elevado. Até o dia 9 de setembro, foram registrados 1.694.546 casos prováveis e, desse total, 1.249.334 já estão confirmados. Há 984 mortes confirmadas e outras 506 estão sendo investigadas. Em relação à Chikungunya, foram 160.504 notificações, com 136.639 casos confirmados. O número de óbitos chega a 101, havendo, no momento, 29 em investigação. “Desde o mês de janeiro, quando foi decretada situação de emergência, diversas ações de enfrentamento estão sendo realizadas, como a utilização de drones para o controle do Aedes, descentralização da aplicação espacial de adulticida a Ultra-Baixo Volume (UBV-Veicular), o Plano Estadual de Contingência, qualificações para manejo clínico, entre outras atividades. Em julho, houve a revogação da situação de emergência e já começamos a organizar este seminário de preparação para o próximo período sazonal”, destacou.
A diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde (SVSA/MS), Alda Maria da Cruz, falou sobre o cenário epidemiológico das arboviroses no Brasil e as perspectivas para 2025. A diretora destacou que o número de casos de dengue em 2024 já é maior que o total de registros ocorridos entre 2018 e 2023. “Até o fim de agosto, foram 6.519.131 casos prováveis, com cerca de 5,5 milhões confirmados. São 5.303 mortes confirmadas e outras 1961 em investigação. No que se refere à Chikungunya, há 255.334 casos prováveis. Já são 169 óbitos confirmados e outros 148 sendo investigados. Em relação à zika, a situação é mais tranquila, com um total de 6.569 casos prováveis e nenhuma morte. Já a febre do Oropouche traz um cenário mais preocupante, com registros de casos em vários estados”, disse. A diretora também ressaltou alguns desafios relacionados a condições climáticas e aos determinantes sociais. “O ano de 2023 foi o mais quente dos últimos 125 mil anos; o fenômeno El Niño alterou os padrões de temperatura e chuvas. E temos também a questão dos determinantes sociais, com 90% de resíduos de casas construídas em locais irregulares não coletados e 48% da população sem acesso a saneamento”, afirmou. Para 2025, ela destacou a necessidade de realizar ações de enfrentamento precoces e integradas.
O oficial nacional de Arboviroses da Opas, Carlos Frederico Campelo de Albuquerque, apresentou a situação epidemiológica das arboviroses nas Américas, destacando que, na região, 4 bilhões de pessoas vivem em áreas de risco de transmissão. Os países com mais número de registros de dengue são Brasil, com 80,75% dos casos, México, Colômbia, Venezuela, Nicarágua e Bolívia. “É preciso considerar que há a questão da maior transmissão em alguns países, mas também há diferenças em relação às notificações. Muitos países não têm um sistema consolidado de registro de casos e, em alguns, a notificação nem é compulsória, impactando nos números”, comentou. Ainda segundo o oficial da Opas, nas Américas, circulam os quatro sorotipos de vírus. Albuquerque também ressaltou o impacto dos determinantes sociais no aumento de casos, como crescimento populacional, urbanização, saneamento inadequado, necessidade de armazenamento de água e manejo inadequado de resíduos sólidos.
Diagnóstico- Mediada pelo pesquisador da Fiocruz Minas Luiz Alcântara, a segunda mesa do dia teve como tema o diagnóstico das arboviroses. A pesquisadora da Fundação Ezequiel Dias (Funed) Ludmila Lamounier falou sobre a situação atual do diagnóstico sorológico e molecular das arboviroses em Minas Gerais. Segundo Lamounier, em 2024, a Funed realizou, até o momento, cerca de 390 mil exames, entre testes moleculares e sorológicos, que revelaram transmissão de dengue e Chikungunya no estado. Em relação à dengue, a maior parte das detecções é dos sorotipos 1 e 2. A pesquisadora também apontou alguns desafios a serem enfrentados, entre eles, as reações cruzadas dos testes sorológicos, a qualidade das amostras e o preenchimento completo da ficha de investigação.
O pesquisador da Fiocruz Minas Pedro Augusto Alves falou sobre a experiência do Laboratório de Diagnóstico de Vírus Emergentes e Outros Patógenos na epidemia de dengue. De acordo com o pesquisador, o laboratório testou 3581 amostras suspeitas de dengue, provenientes do município de Belo Horizonte, sendo que 58% delas deram resultado positivo. “Em números absolutos, foram 2093 amostras positivas para dengue e, desse total, 87% eram o sorotipo 1 e 12% do sorotipo 2. Os 3% restantes, que representam 5 amostras, eram do sorotipo 3”, explicou. Ainda conforme o pesquisador, os 42% que deram negativo para dengue, um total de 1488 amostras, foram testados para Mayaro e febre do Oropouche, também com resultados negativos.
O pesquisador Danilo Bretas, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, falou sobre os desafios do diagnóstico diferencial nas coinfecções por arboviroses. Ele destacou que as coinfecções são comuns em áreas endêmicas, mas ressaltou que ainda não se sabe o impacto e relevância disso para a saúde pública. “Há alguns estudos que apontam a relação entre coinfecção e casos mais graves, mas outros entendem que ainda não há evidências para fazer essa relação”, disse. Segundo Bretas, há relatos de casos de miocardite ligados à coinfecção, mas ainda não se sabe se esse dado é, de fato, relevante. “Por isso, é importante que haja mais estudos, para que possamos construir esse conhecimento juntos”, afirmou.
Manejo- Com mediação de Adriana Cenachi, da SES-MG, a terceira mesa tratou sobre o manejo clínico das arboviroses. A pesquisadora Cristina Hofer, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), falou sobre os cuidados na gestação diante de um cenário de transmissão de arboviroses. Hofer mostrou os possíveis desfechos de uma infecção durante a gravidez e ressaltou a necessidade de dar uma atenção especial para as gestantes que apresentem quadro de febre. “Gestante febril requer muita atenção; temos que ficar de olho. Se a mãe tem febre, não pode haver alta rápida nem para ela nem para o bebê”, afirmou. A pesquisadora destacou ainda a importância de atuar na prevenção. “Desde o início da gravidez, é preciso reforçar para a gestante a necessidade de usar repelente, mosquiteiro e outras formas de prevenção”, salientou.
O médico Alexandre Moura, da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, abordou os desafios da assistência à Chikungunya. Segundo Moura, o principal aspecto que diferencia a Chikungunya de outras arboviroses é a dor articular intensa, chamada de poliartrite, uma vez que acomete até 40 articulações. Outra característica da doença, de acordo com o médico, é a alta carga de morbidade. “É uma doença que sobrecarrega o serviço de saúde, pois, mesmo após a epidemia, o serviço continua sobrecarregado. O paciente desenvolve dor crônica, afetando sua qualidade de vida e podendo levar à depressão”, explicou. De acordo com o médico, não existe um antiviral indicado para a Chikungunya e, dessa forma, o tratamento é apenas de suporte. “É preciso saber a fase da doença, se aguda ou crônica, a intensidade da dor, bem como se o paciente tem alguma comorbidade, para definir que tratamento indicar”, disse.
A servidora Raquel Viana, da Subsecretaria de Acesso a Serviços de Saúde da SES-MG, apresentou o fluxo de encaminhamento do paciente com arboviroses entre as redes e a criação do laudo no SUSFácilMG. Viana explicou que o estado de Minas Gerais tem um fluxo definido para encaminhamento e, desde que o paciente dá entrada em um estabelecimento de saúde com necessidade de internação, abre-se um laudo que chega à Central de Regulação. “O profissional que tem acesso ao SUSFácil deve documentar bem, pois o médico regulador vai olhar para esse laudo para encaminhar o paciente conforme a gravidade”, disse. Além disso, as informações do laudo vão contribuir para a Vigilância Epidemiológica. “A origem do paciente, por exemplo, pode indicar onde estão acontecendo os casos da doença”, explicou.
Experiências- O segundo dia do evento contou com mais três mesas temáticas. A primeira delas foi mediada pelo secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Rivaldo Venâncio, e apresentou experiências de municípios no enfrentamento das arboviroses. A médica Ana Paula Vilas Boas, da Secretaria Municipal de Saúde de Governador Valadares, contou como se deu a organização da assistência no município. Entre as ações executadas, a médica destacou uma capacitação que definiu protocolos de atendimento. “Para essa atividade, aplicamos os princípios da andragogia, que diz que os adultos devem ter uma participação ativa na própria aprendizagem. Assim, durante a capacitação, as pessoas puderam apontar soluções para as questões levantadas. Posteriormente, esse modelo foi replicado para a macrorregião Leste”, disse.
O médico Mariano Fagundes, da Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros, também apresentou a organização da assistência e ressaltou que um conjunto de ações possibilitou ao município de 413 mil habitantes registrar uma das menores taxas de letalidade relacionadas à arboviroses, tendo, em 2024, sete óbitos por dengue. “Entre as estratégias adotadas, fizemos o clássico, ou seja, controle vetorial, por meio de visitas às residências, aplicação de inseticidas, levantamento de índice larval, recolhimento de pneumáticos, instalação de ovitrampas, entre outras. E também tivemos algumas inovações, como blitz educativa, mutirão de limpeza, Dia D, visita às escolas, carreata educativa, criação de uma mascote para interagir com a população. Na assistência, criamos um canal de consulta, ampliamos o número de exames e de leitos e tivemos um transporte sanitário para deslocamento de pacientes que funcionou muito bem”, contou.
Referência técnica da Diretoria de Zoonoses da Prefeitura de Belo Horizonte, Vítor Rodrigues Dias apresentou o modelo de estratificação de risco e bloqueio da transmissão de arboviroses adotado no município. Dias destacou que a estratificação permite direcionar a força de trabalho para as áreas com potencial de transmissão. “A partir da estratificação, planejamos o manejo de vetores, utilizando várias estratégias, como instalação de ovitrampas, mutirão de limpeza, agendamento noturno para visita a imóveis fechados, entre outras”, contou. Ainda conforme a referência técnica, a estratificação também ajuda a definir as áreas com necessidade de bloqueios de transmissão, por meio da aplicação espacial de adulticida a Ultra-Baixo Volume. “O bloqueio é feito juntamente com outras ações, como o uso de drones para a detecção de focos de transmissão”, explicou.
Desafios e perspectivas- Com mediação da coordenadora de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Tânia Fonseca, a segunda mesa abordou os desafios e perspectivas para o controle das arboviroses. A servidora Ana Cláudia Barbosa, da SES-MG, falou sobre o impacto da organização da assistência no desfecho das arboviroses. Segundo Barbosa, a organização precisa considerar o acesso, a integralidade e a longitudinalidade do cuidado, pois muitas vezes a doença requer uma continuidade da prestação de assistência. “Também é necessário que haja uma coordenação do cuidado, orientações às famílias e á comunidade, bem como competência cultural, para lidar com as especificidades de cada local”, afirmou.
A jornalista Elisa Andries, do Gabinete da Presidência da Fiocruz, falou sobre comunicação de risco em emergências sanitárias. Ela explicou que a comunicação de risco envolve um conjunto de estratégias e práticas com o objetivo de prover o público com informações sobre os riscos, a fim de promover conscientização para a adoção de medidas de proteção individuais e para a comunidade. “A comunicação compõe o ciclo de vigilância em saúde, sendo uma atividade essencial na prevenção e combate não somente às arboviroses, mas também a outros agravos”, afirmou. Ainda conforme Andries, uma comunicação eficaz requer a segmentação dos públicos, adotando uma linguagem diferenciada para os diversos grupos populacionais. “Também é importante uma diversificação dos materiais, podendo incluir cartilhas coloridas, cards, vídeos curtos, spots de rádio, carro de som e várias outros”, explicou. “É preciso levar informação de qualidade e estar conversando com a população o tempo todo. Não é uma tarefa apenas da equipe de comunicação, mas de todos os profissionais de saúde”, disse.
O pesquisador José Moreira, do Instituto Butantan, apresentou o estado da arte das vacinas contra dengue e Chikungunya, que estão em desenvolvimento. Segundo Moreira, os resultados preliminares da vacina contra a dengue demonstraram que o imunizante funciona bem para a doença nas formas leve, moderada e grave. Será uma vacina de dose única, o que ajuda na adesão, com eficácia para os sorotipos 1 e 2. Já o estudo voltado para o desenvolvimento da vacina contra a Chikungunya, que está na fase 3 do ensaio clínico no Brasil, avalia a segurança e imunogenicidade. Os resultados mostraram 100% de soroconversão em participantes com infecção prévia e 98,8% naqueles sem infecção anterior. Conforme o pesquisador, a maioria dos eventos adversos foi leve ou moderada. “O Butantan lidera o desenvolvimento dessas duas vacinas. São projetos importantes para a soberania e autonomia do país e que vão contribuir para o fortalecimento do complexo industrial do Brasil”, destacou.
O pesquisador Luciano Pamplona, da Universidade Estadual do Ceará, falou sobre o serviço de verificação de óbitos, que integra a Vigilância em Saúde do estado do Ceará desde 2005, visando ao esclarecimento das causas dos óbitos de morte natural em situações em que não houve assistência médica ou sem elucidação diagnóstica, mesmo com assistência médica. Segundo Pamplona, o serviço oferece maior chance de identificar se determinadas mortes ocorreram por fatores relacionados às arboviroses. “A investigação é feita por meio de autópsia minimamente invasiva, em que não há necessidade de abrir o corpo, como ocorre na técnica tradicional, usando pequenas agulhas que fazem incisões na pele para se ter acesso a órgãos e tecidos”, explicou. Conforme o pesquisador, em 2024, amostras de 143 corpos autopsiados foram testadas para arboviroses e 90 deram positivo para a dengue.
Oropouche- Mediada pela médica Flávia Cruzeiro, do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde da SES-MG (Cievs Minas), a última mesa do evento teve como tema a Febre do Oropouche, visando apresentar o que se sabe até o momento. A médica do Cievs Natali Nicolino falou sobre a vigilância e investigação de casos de Oropouche em Minas Gerais, diagnostica em 2024 pela primeira vez. Ela contou que, até o final de agosto, houve 194 casos no estado, sendo a maior parte dos registros entre o sexo feminino, vitimando 109 mulheres e 85 homens. A maioria dos casos ocorreu na faixa etária entre 20 e 49 anos. Segundo a médica, o município de Joanésia, que pertence à Unidade Regional de Saúde de Coronel Fabriciano, é o que registrou o maio número de casos, um total de 146. “Logo nos primeiros registros, a SES-MG emitiu nota técnica estabelecendo fluxos de atendimento e orientações para a vigilância. Também implementamos a vigilância sentinela, incluindo as testagens para Oropouche e Mayaro”, contou.
O pesquisador da Fiocruz Amazônia Felipe Naveca falou sobre o impacto do diagnóstico precoce na vigilância. Naveca trabalha com Oropouche desde 2012, quando, ao investigar um surto de dengue em Roraima, identificou a doença. Responsável pelo desenvolvimento do protocolo de PCR em tempo real para diagnóstico da doença, o pesquisador explica que Oropouche tem sintomas muito parecidos com os de outras arboviroses, sendo impossível identificar somente pela clínica. Sobre a disseminação do vírus, o pesquisador destacou que, de fato, o vírus está em expansão, mas é preciso considerar também a testagem. “Há esse espalhamento, devido ao comportamento do vetor e às mudanças climáticas, mas também houve o aumento da vigilância este ano, e a testagem permite a detecção dos casos”, afirmou. O pesquisador também reforçou a importância da vigilância genômica, que possibilita compreender como o vírus se comporta, de forma a facilitar o controle.
A pesquisadora Maria Paula Mourão, da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado, falou sobre o diagnóstico e manejo clínico de Oropouche. Ela reforçou a semelhança dos sintomas e alertou para a necessidade de dar atenção especial aos pacientes em extremos de idade e com condições de risco. “Crianças abaixo de dois anos, idosos e gestantes requerem mais atenção”, afirmou. A pesquisadora também ressaltou que o vírus está chegando em áreas que não eram endêmicas e poderá ter um comportamento diferente. Ela lembrou ainda a importância das parcerias. “As instituições terão que andar de mãos para lidar com mais essa doença. No Amazonas, criamos um canal de telessaúde sobre manejo clínico do Oropouche voltado para profissionais de saúde e estamos à disposição”, destacou.
O evento foi transmitido pelo canal do Youtube da SES-MG e já atingiu mais de duas mil visualizações. Em breve, o vídeo estará também no canal do Youtube da Fiocruz Minas.