Vírus Chikungunya

07/05/2014

Claudia Nunes Duarte dos Santos - Laboratório de Virologia Molecular - Instituto Carlos Chagas/Fiocruz PR O arbovíirus Chikungunya (CHIKV) possui dois ciclos de transmissão distintos: ciclo enzoótico/silvático e urbano. No primeiro o vírus é transmitido por vários espécies de mosquito do gênero Aedes (A. furcifer, A. vittatus, A. fulgens, A. luteocephalus entre outros) a primatas não-humanos (macacos) especialmente na África, e o homem pode eventualmente se infectar quando entra em ambientes de florestas. O ciclo de transmissão urbano envolve duas espécies de mosquitos altamente antropofílicas A.aegypti e A. albopictus além do homem (o mesmo ocorre com a dengue). O primeiro surto documentado causado pelo CHIKV foi em 1952-1953 na Tanzânia, causando doença febril acompanhada de severa artralgia (dor nas articulações). Após este, outros surtos pequenos têm ocorrido periodicamente na África e algumas epidemias na Índia e sudeste asiático. No entanto, epidemias explosivas de CHIKV foram recentemente observadas em diversas ilhas do oceano Indico com centenas de milhares de indivíduos infectados. O CHIKV causa uma doença febril geralmente com dor de cabeça, náusea, vômitos, mialgia (dor nos músculos), exantema (erupções avermelhadas na pele) e severa e persistente artralgia podendo durar meses ou anos. A maior parte dos sintomas pode ser confundida com dengue. Fazendo referência à postura contorcida assumida pelas pessoas infectadas por este vírus por causa das dores, o nome Chikungunya é derivado de uma palavra do idioma Makonde que significa “aqueles que se dobram”. Embora a taxa de mortalidade decorrente de infecções por CHIKV seja baixa, eventualmente podem atingir até 4,9%. É uma doença altamente incapacitante com sequelas que podem durar por anos mantendo o indivíiduo afastado de suas funções e gerando um importante impacto econômico. Em 2010, foram diagnosticados os primeiros casos de infecção por CHIKV no Brasil em três pacientes que haviam viajado para a Indonésia e para a Índia. Embora ainda não existam relatos da circulação do vírus no Brasil, o risco de introdução é muito alto, principalmente devido em razão ao intenso fluxo de viagens internacionais, à competência, distribuição e alto índice de infestação do vetor (mosquitos Aedes albopictus e A. aegypti) e à alta viremia durante a fase aguda da doença em humanos. Adicionalmente, já há notificação de casos autóctones (quando a transmissão ocorre na região) na Guiana Francesa e outras regiões do Caribe. Considerando-se o risco potencial de emergência desses vírus no Brasil e a inexistência de agentes antivirais específicos para tratamento, bem como a semelhança dos sintomas iniciais com uma série de outras infecções, especialmente a dengue, é fundamental que se tenham disponíveis testes diagnósticos rápidos, inequívocos e de baixo custo para o diagnóstico diferencial e o tratamento dos pacientes e as medidas de controle e vigilância epidemiologia recomendáveis. O diagnóstico destas viroses utiliza geralmente ensaios de soro-neutralização ou isolamento viral que são laboriosos, demorados e dependem de amostras virais e instalações específicas. Com o intuito de possuirmos competência instalada para uma resposta rápida na eventualidade de um surto no país, o Laboratório de Virologia Molecular do Instituto Carlos Chagas/Fiocruz PR iniciou no ano de 2012 a produção de antígenos recombinantes do CHIKV como uma alternativa para o desenvolvimento de kits para o diagnóstico sorológico desta virose. Algumas proteínas recombinantes e anticorpos monoclonais já foram produzidos e estão em fase de caracterização/validação. Entretanto, a grande dificuldade de se obter um painel de amostras de soro de pacientes com infecção por CHIKV tem sido a grande limitação para validação e produção dos kits diagnósticos. Esses testes poderão contribuir para aumentar a habilidade de detectar e confirmar casos suspeitos, além de garantir uma maior independência tecnológica para o país. A rapidez no diagnóstico poderá ajudar a reduzir a mortalidade associada à CHIKV e ajudar no direcionamento de estratégias para controle da infecção durante um eventual surto dessas doenças. Literatura relacionada sugerida: Chikungunya virus infection: an overview. Caglioti C, Lalle E, Castilletti C,Carletti F, Capobianchi MR, Bordi L. New Microbiol. 2013, 36(3):211-27. Present and future arboviral threats. Weaver SC, Reisen WK. Antiviral Res.2010 85(2):328-45.

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