Zika vírus: “Melhoramento dos serviços de água e saneamento é a resposta”, apontam especialistas da ONU
A importância dos sistemas de saneamento para o controle de diversas doenças, como a zika, foi enfatizada pelo pesquisador da Fiocruz Minas, Léo Heller, em entrevista divulgada recentemente pela assessoria de imprensa do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Heller, que também é relator especial das Nações Unidas, destacou que há uma relação estreita entre os sistemas de saneamento deficientes e o surto das arboviroses. Veja abaixo a matéria na íntegra:
GENEBRA (8 de março de 2016) – “Enquanto o mundo procura soluções de alta tecnologia para combater o Zika vírus, não devemos esquecer o péssimo estado do acesso à água e ao esgotamento sanitário para as populações desfavorecidas”, diz o Relator Especial das Nações Unidas para o direito humano à água e ao esgotamento sanitário, Léo Heller.
“Podemos criar mosquitos estéreis ou utilizar ferramentas da Internet para mapear dados dos vários quadrantes do mundo, mas não devemos esquecer que, atualmente, há cem milhões de pessoas na América Latina que ainda carecem de acesso a sistemas de saneamento higiênicos, e setenta milhões de pessoas que não têm água encanada em seus terrenos ou dentro de suas residências”, enfatizaram os especialistas independentes.
“Há um forte vínculo entre sistemas de saneamento deficientes e o surto atual do Zika vírus, bem como a dengue, a febre amarela e o chikungunya, sendo todos eles transmitidos por mosquitos,” afirmou Heller, “e a maneira mais efetiva de enfrentar esse problema é melhorar esses serviços”.
O especialista destacou que a região da América Latina cumpriu com a meta referente ao abastecimento de água dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas em 2010, mas esses avanços ainda não estão ao alcance de todos. No que diz respeito ao esgotamento sanitário, o objetivo não foi cumprido e três milhões de pessoas ainda defecam a céu aberto. “Devido às definições mais estritas desses objetivos no marco dos novos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, a falta de acesso à água segura e esgotamento sanitário na região será expressa em termos mais dramáticos”, advertiu.
“Quando as pessoas têm condições de vida e de moradia inadequadas e não têm acesso a serviços bem geridos de abastecimento de água, elas tendem a armazenar água de maneira insegura, favorecendo a propagação de mosquitos,” observou o especialista das Nações Unidas sobre moradia adequada, Leilani Farha. “Além disso, os sistemas precários de esgotamento sanitário, nos quais o esgoto escorre em canais abertas e é disposto em fossas inadequadas, resultam em água estagnada – a condição perfeita para a proliferação de mosquitos”.
Para as pessoas da região, o direito ao gozo dos mais elevados padrões de saúde física e mental atingíveis encontra-se seriamente comprometido neste momento. Isso é diretamente vinculado à falta de acesso à água segura e ao esgotamento sanitário por grandes proporções da população.
Na região latino-americana, são os mais pobres e marginalizados que sofrem de maneira desproporcional pela carga adicional do Zika vírus, sendo que este é potencialmente associado com a microcefalia (bebês nascidos com o tamanho de cabeça anormalmente pequeno) e a síndrome de Guillan-Barré (uma condição neurológica), além de outras doenças transmitidas por mosquitos.
Essas “novas” doenças representam um peso a mais sobre as mulheres, que encarregam o medo desses agravos durante sua gravidez, e muitas vezes cuidam de suas crianças, que potencialmente adoecem. As mulheres e crianças são afetadas de forma desproporcional pelo surto atual do Zika vírus. Os sistemas de saúde precisam estar prontos para atender às necessidades e aos direitos relativos à saúde desses sujeitos, no sentido de garantir sua autonomia e envolvê-los nas medidas que os afetam.
“Os governos dessa região devem acelerar a melhoria das condições relativas à água e ao esgotamento sanitário, particularmente para as populações mais vulneráveis, sendo que assim se salvarão vidas diante do desenvolvimento dessa crise mundial,” afirmou Heller.
Fonte: Conselho de Direitos Humanos - ONU