Maria Elizabeth Uchôa de Oliveira Demicheli

 

 

Maria Elizabeth Uchôa de Oliveira Demicheli

 

 

Maria Elizabeth Uchôa de Oliveira Demicheli nasceu em Belo Horizonte, no ano de 1953.[1] Graduou-se em medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1976, especializando-se em psiquiatria pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais. Realizou doutorado em Antropologia pela Universidade de Montreal (1988), e pós-doutorado em Antropologia Médica pela McGill University (1992).

 

Atuou como consultora da Organização das Nações Unidas (ONU), tendo coordenado e participado de pesquisas em psiquiatria em São Tomé e Príncipe, no Mali e no Canadá, nas décadas de 1980 e 1990.

 

De volta ao Brasil, no ano de 1994, trabalhou em projeto desenvolvido pelo Ministério da Saúde para avaliar ações de mobilização comunitária no controle da esquistossomose em Minas Gerais. Maria Elizabeth se entusiasmou com a oportunidade, inédita em sua carreira, de integrar um projeto antro-epidemiológico. O grupo contava com a participação da pesquisadora Maria Fernanda Lima Costa, chefe do Laboratório de Epidemiologia e Antropologia Médica do Instituto René Rachou (IRR), que logo convidou Elizabeth para compor sua equipe na Fiocruz Minas. No Instituto, ela atuou na função de antropóloga e psiquiatra do Projeto Bambuí: diagnóstico de saúde e estudo prospectivo em idosos; com ênfase em doenças cardiovasculares e aspectos psico-sociais/saúde mental. Até 1996, Elizabeth foi pesquisadora visitante do IRR, desenvolvendo trabalhos próprios, como o projeto intitulado O estudo antropológico sobre o envelhecimento em Bambuí.

 

Em 1996 tornou-se professora do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina – UFMG. No ano seguinte prestou concurso para professor associado da Fiocruz Minas, onde chegou a pesquisadora titular, atuando no Laboratório de Epidemiologia e Antropologia Médica. Também liderou o grupo Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento. No IRR, Maria Elizabeth Uchôa foi coordenadora em Saúde Mental nas diversas etapas do Projeto Bambuí: um estudo de coorte de base populacional sobre o envelhecimento. Essa iniciativa é considerada pioneira, pelo foco em investigação e diagnóstico da saúde da população idosa do interior do Brasil, e seu processo de envelhecimento. Na cidade Bambuí/MG, os pesquisadores identificaram “preditores da mortalidade, hospitalização, limitações físicas, déficit cognitivo e de doenças e condições crônicas selecionadas, com ênfase em saúde mental e doenças cardiovasculares”. A pesquisa conjugou a análise da incidência de fatores ambientais e genéticos na saúde, com ênfase no aspecto mental.[2] Toda a pesquisa contou com a estrutura e o apoio do Posto Avançado de Pesquisas Emmanuel Dias, unidade da Fiocruz Minas existente na cidade.

 

Maria Elizabeth publicou diversos artigos científicos sobre antropologia médica e do envelhecimento, psiquiatria social e transcultural, e saúde coletiva.[3] Na Fiocruz Minas atuou em conjunto com outros pesquisadores, como Maria Fernanda F. Lima Costa e Josélia Oliveira Araújo Firmo.[4] No ano de 2005, afastou-se do trabalho por motivos de saúde, aposentando-se em 2008.

 

A trajetória profissional de Maria Elizabeth Uchôa foi marcada pelo rigor acadêmico, o pioneirismo nos temas de pesquisa, e o respeito pelas características individuais, sociais e culturais das pessoas e comunidades que estudou. Pela sua disposição para a escuta e sua abertura intelectual e humana para o outro, o Projeto Memória do IRR optou por honrar o legado da pesquisadora abrindo espaço para sua narrativa autoral. Disponibilizamos, em link a seguir, a íntegra do “Memorial apresentado ao Centro de Pesquisas René Rachou, Fundação Oswaldo Cruz, para o concurso para Pesquisador Associado na área de Antropologia Médica (1997)”, onde a própria pesquisadora toma a palavra e conta sua história.

 

 

 

 

 

 

 

 

Projeto Memória. Trajetória histórica e científica do Instituto René Rachou – Fiocruz Minas.

Coordenadores: Dr. Roberto Sena Rocha.

Texto da historiadora: Natascha Stefania Carvalho De Ostos.

 

 

[1] UCHÔA, Elizabeth. I jinéw: destino, malattia e cura di Kadiatou. Un approccio antropo-psichiatrico. AM – Rivista della Società italiana di antropologia medica, n. 9-10, otto. 2000, p. 94.

 

[2] EMICHELI, Maria Elizabeth Uchôa de Oliveira. Currículo Lattes. Disponível em: <http://lattes.cnpq.br/2924096208017273>.

 

[3] CORIN, E.; UCHÔA, E.; BIBEAU, G.. La place de la culture dans la psychiatrie africaine d’aujourd’hui: paramètres pour un cadre de référence. Psychopathologie Africaine, vol. 24, n. 2, 1992, p. 149-181; CORIN, E.; BIBEAU, G.; UCHÔA, E. Éléments d’une sémiologie anthropologique des troubles psychiques chez les Bambara, Soninké et Bwa du Mali. Anthropologie et Sociétés, vol. 17, no 1-2, 1993, p. 125–156.

 

[4] LIMA E COSTA, M. F. F. et al.. Avaliação do Programa de controle da esquistossomose (PCE/PCDEN) em municípios situados na Bacia do Rio São Francisco, Minas Gerais, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, vol. 29, 1996, p. 117-129; LIMA E COSTA, M. F. F.BARRETO, S. M.FIRMO, J. O. A.; UCHOA, E.. Socioeconomic position and health in a population of Brazilian elderly: the Bambuí Health and Aging Study (BHAS). Panamerican Journal of Public Health, vol. 13, n. 6, 2003, p. 387-393; LIMA E COSTA, M. F. F.FIRMO, J. O. A.; UCHOA, E.. Cohort Profile: The Bambuı (Brazil) Cohort Study of Ageing. International Journal of Epidemiology, 2010, p. 1-6; QUINTINO-SANTOS, S. R. et al.. Homozygosity for the APOE E4 Allele is Solely Associated with Lower Cognitive Performance in Brazilian Community-dwelling Older Adults – The Bambuí Study. Revista Brasileira de Psiquiatria, vol. 34, 2012, p. 440-445; ALVARENGA, J. M. et al.. Chronic use of benzodiazepines among older adults. Revista de Saúde Pública, vol. 48, 2014, p. 866-872.