Condições do ambiente e do organismo influenciam comportamento de inseto vetor da doença de Chagas

Um estudo da Fiocruz Minas mostrou que a atividade locomotora do Rhodnius prolixus, um dos principais vetores do Trypanosoma cruzi, agente causador da doença de Chagas, é modulada por fatores como estágio de desenvolvimento, estado nutricional, sexo e ciclo de luz. De acordo com a pesquisa, o comportamento desses insetos não é uma característica individual fixa, mas varia de acordo com condições fisiológicas e ambientais.

O estudo avaliou o padrão de movimentação de 81 insetos, entre machos e fêmeas, em diferentes situações: alimentados, em jejum curto e em jejum prolongado, tanto na fase ninfal quanto na fase adulta. Os testes foram realizados em actômetros, que são equipamentos com feixes de luz infravermelha que registram os movimentos de cada inseto ao longo de 24 horas.

Segundo a pesquisadora Alessandra Guarneri, coordenadora do estudo, o trabalho integra uma das linhas de pesquisa do grupo, que busca compreender como os patógenos, ou seja, organismos transmissores de doenças, influenciam no comportamento de seus hospedeiros. “Nosso grupo vem realizando há algum tempo uma série de estudos que investiga como a infecção por parasitos pode alterar o comportamento do inseto vetor. Já havíamos observado, por exemplo, que o Trypanosoma cruzi faz com que o inseto tente se alimentar com mais avidez, o que aumenta suas chances de ser predado, e consequentemente, as chances de transmissão do parasito”, explica Alessandra.

No estudo atual, os resultados mostraram que as fêmeas são consistentemente mais ativas que os machos e que a movimentação é mais intensa à noite, período em que esses insetos costumam sair de seus abrigos para buscar alimento. Além disso, os adultos se mostraram mais ativos que as ninfas, especialmente após a alimentação. “As ninfas andam menos, o que pode estar relacionado à ecologia da espécie. Como não voam, elas precisam economizar energia e, assim, conseguem resistir mais tempo ao jejum”, comenta a pesquisadora.

Já os adultos alimentados apresentaram níveis de atividade mais elevados, o que pode estar ligado a comportamentos de acasalamento ou à busca por abrigo após a refeição. Para Alessandra, a observação desses padrões ajuda a entender melhor como o inseto se comporta em condições naturais. “O estudo procurou compreender essa dinâmica, uma vez que o comportamento observado em laboratório se assemelha com o que ocorre em campo”, afirma.

De acordo com a pesquisadora, entender os fatores que influenciam o comportamento de triatomíneos é essencial para aprimorar as medidas de vigilância e controle da doença de Chagas. “Se sabemos que o inseto sai mais à noite, por exemplo, podemos usar essa informação para auxiliar no planejamento de ações de controle mais eficazes”, afirma.

A pesquisadora destaca ainda que a investigação reforça o papel dos estudos básicos na compreensão dos mecanismos que sustentam a transmissão da doença de Chagas.

“A ciência é um processo. Esse tipo de pesquisa fornece informações essenciais sobre a biologia do inseto e sua interação com o parasito. É um conhecimento que se acumula e, no futuro, além de contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias de controle, poderá gerar outros produtos”, destaca Alessandra.

Para acessar a descrição completa dos resultados, acesse o artigo publicado no Journal of Insect Physiology.