Rodrigo Corrêa de Oliveira

 

 

Rodrigo Corrêa – Foto: Acervo Fiocruz

 

 

 

Rodrigo Corrêa de Oliveira faleceu repentinamente no dia no dia 27 de outubro de 2023, exatamente como nas palavras do escritor Rubem Braga:

“E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste”. Tivemos “momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossas vidas”.[1]

 

O pesar causado pela partida prematura de Rodrigo Corrêa diz muito sobre o homem que ele foi. Sociável e gentil, sempre tinha uma palavra amiga e de incentivo para os colegas. Além disso, foi profissional exemplar com brilhante carreira em prol da saúde e da ciência nacional.

Nascido em Belo Horizonte, Minas Gerais, no dia 06 de abril de 1956,[2] graduou-se em Biologia no ano de 1980 pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ao longo do curso interessou-se pelos aspectos imunológicos das doenças parasitárias, especialmente a esquistossomose. Já em 1981 finalizou o mestrado na UFMG com a dissertação intitulada Schistosoma mansoni: fatores envolvidos na morte de esquistossomulos nos pulmões de camundongos normais, mediada por anticorpos. Como bolsista da Organização Mundial da Saúde (OMS) completou o doutorado nos Estados Unidos, na Universidade Johns Hopkins, em 1985, com a tese,
Genetic analysis of the defects in the immune responses of inbred mice to an attenuated vaccine against Schistosoma mansoni. No mesmo ano começou a trabalhar na Fundação Ezequiel Dias (FUNED), onde permaneceu por um ano até ingressar como pesquisador no Instituto René Rachou (IRR) – Fiocruz Minas, em 1986.

 

No IRR ele foi coordenador do Laboratório de Imunologia Celular e Molecular, dedicado a desenvolver pesquisas sobre “epidemiologia, controle e genética na esquistossomose, mecanismos imunológicos celulares e moleculares”.[3] Com mais de 300 artigos científicos publicados, seus trabalhos abrangeram estudos sobre mecanismos de susceptibilidade e resistência às infecções por Schistosoma mansoni, Trypanosoma cruzi, Leishmania e geohelmintos. Suas pesquisas versaram sobre: avaliação da resposta imune de indivíduos residentes em áreas endêmicas, mecanismos naturais de resistência a infecções induzidos pelo tratamento contínuo, papel das co-infecções na manutenção da transmissão, genética de populações, estudos comportamentais e socioeconômicos, distribuição e acesso a tratamentos. Dentre suas várias contribuições, destacamos a pesquisa em que ele “descreveu um grupo de indivíduos residentes em áreas endêmicas para a esquistossomose que, apesar de apresentarem contato contínuo com águas contaminadas, não se infectavam, observação considerada de grande impacto para o entendimento do papel do sistema imunológico na resistência a infecção pelo S. mansoni”.[4]

 

Rodrigo também participou de pesquisas para o desenvolvimento de vacinas contra a esquistossomose e a ancilostomose. No caso da doença de Chagas dedicou-se a estudar os mecanismos imunológicos que determinam a evolução para a forma cardíaca, com foco na genética de populações e identificação de biomarcadores para a cardiomiopatia. Suas últimas pesquisas versavam sobre a leishmaniose canina e o desenvolvimento de vacina contra essa infecção em cães.[5]

 

Rodrigo Correa orientou 25 trabalhos de mestrado e 46 de doutorado, além de ter supervisionado 27 pesquisas de pós-doutorado. Também exerceu atividade docente como Professor Voluntário da Escola de Enfermagem da UFMG, Professor Visitante da Universidade Federal de Ouro Preto e Professor Adjunto da George Washington University School of Medicine and Health Sciences, nos Estados Unidos. Na Universidade do Vale do Rio Doce, em Governador Valadares/MG, ele supervisionou a implementação do Laboratório de Imunologia.

 

Rodrigo também ocupou importantes cargos de gestão e integrou diversas associações científicas. membro titular da Academia Brasileira de Ciências, da The World Academy of Sciences for the Advancement of Science in Developing Countries e da American Society of Tropical Medicine and Hygiene. Participou do Conselho Curador da Fundação Amparo à Pesquisa de Minas Gerais/FAPEMIG (2010-2012) e da Fundação Biominas. Foi consultor do CNPq e atuou na OMS como vice-presidente da Tropical Disease Research (2006-2007) e foi Presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia  (2001).

 

No IRR foi diretor da instituição entre os anos de 2009 e 2012, quando se aposentou, mas continuou exercendo diversas atividades. Em 2017 foi convidado para ser Vice-Presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fundação Oswaldo Cruz, permanecendo como Consultor Especial da Presidência até seu falecimento.[6] Ao longo de sua carreira recebeu prêmios e homenagens, como a Medalha Carlos Chagas, da Fiocruz (1999), Medalha da Sociedade Latino-Americana de Patologia e Mérito da Saúde do Estado de Minas Gerais (2010).

 

Como pesquisador reconhecido na área de imunologia, seu legado continua impactando positivamente a ciência brasileira, e seu trabalho como gestor repercute em políticas públicas e institucionais. Seu nome é citado como um dos cientistas mais influentes do mundo, “7º lugar nacional e 1.553º mundial em Imunologia; e 49º lugar nacional e 17.065º mundial em Medicina”.[7]

 

Rodrigo recebeu homenagens póstumas: no XVII Simpósio Internacional de Esquistossomose, em 2024, em que o prêmio de melhor apresentação de poster levou seu nome; em 2025, no II Simpósio da Rede de Plataformas Tecnológicas (RPT) da Fiocruz; e na cerimônia que celebrou os 70 anos da Fiocruz Minas, na Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

 

Na semana anterior ao seu falecimento, Rodrigo participou do evento comemorativo dos 80 anos do Posto Avançado Emmanuel Dias, em Bambuí (MG), onde também foi homenageado. Naquela ocasião, Rodrigo pôde reencontrar-se com colegas e amigos que não via há muito tempo, partilhando momentos de conversa e descontração. É essa última lembrança, de um Rodrigo Corrêa alegre e vibrante, que permeia a memória de todos que conviveram com ele.

 

 

Realização: Núcleo de Memória Institucional da Fiocruz Minas

 

 

[1] BRAGA, Rubem. Despedida. In: A Traição das Elegantes. Rio de Janeiro: Editora Sabiá, 1967, p. 83.

[2] GOMES, J. A. S.; MARTINS-FILHO, O. A. Rodrigo Corrêa de Oliveira (★1956 †2023). Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 56, e0547–2023.

[3] FIOCRUZ. Centro de Pesquisas René Rachou – A Fundação Oswaldo Cruz em Minas Gerais. Belo Horizonte: Fiocruz, 2000, p. 16.

[4] OLIVEIRA, Rodrigo Correa. Academia Brasileira de Ciências. Disponível em:

<http://www.abc.org.br/membro/rodrigo-correa-de-oliveira/>.

[5] OLIVEIRA, Rodrigo Correa. Currículo Lattes. Disponível em: <http://lattes.cnpq.br/8712666530716107>.

[6] FIOCRUZ. Agência Fiocruz de Notícias. Fiocruz Lamenta a morte de Rodrigo Corrêa. 27 out. 2023. Disponível em: <https://agencia.fiocruz.br/fiocruz-lamenta-morte-do-pesquisador-rodrigo-correa>.

[7] FIOCRUZ, IRR. Pesquisadores da Fiocruz Minas se destacam em ranking internacional de cientistas mais influentes, 10 out. 2025. Disponível em: <https://minas.fiocruz.br/14157>; RESEARCH. Best Scientists in the World By Discipline 2025. Disponível em: <https://research.com/rankings>.