Três trabalhos desenvolvidos por estudantes do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Fiocruz Minas estão entre os vencedores do IV Prêmio SBP de Dissertações e Teses, promovido pela Sociedade Brasileira de Parasitologia. Os estudos contemplam diferentes temas de pesquisa – esquistossomose, leishmanioses e doença de Chagas – e reforçam a contribuição da instituição para o enfrentamento de doenças negligenciadas.
No eixo Entomologia e Malacologia, a tese de Eduardo Ribeiro de Oliveira, sob orientação da pesquisadora Lileia Gonçalves Diotaiuti, buscou aperfeiçoar as estratégias de controle químico de barbeiros, insetos transmissores da doença de Chagas. Entre as atividades realizadas, o doutorando organizou e disponibilizou acervos históricos sobre o combate aos vetores, criando a Biblioteca Virtual de Controle Químico de Triatomíneos e um repositório com mais de 200 mil registros de captura de barbeiros em Minas Gerais. Essas ferramentas resgatam informações acumuladas ao longo de décadas e agora estão acessíveis para orientar gestores e pesquisadores.
O estudo também avaliou o perfil de resistência dos triatomíneos aos inseticidas atualmente utilizados e testou novos produtos químicos, como o Fludora® Fusion, que apresentou resultados mais eficazes e duradouros do que os tradicionais. Além disso, foi analisada a eficácia de diferentes compostos em populações de triatomíneos previamente caracterizadas como resistentes, trazendo dados relevantes para o aprimoramento das ações de vigilância e controle. A pesquisa reforça a necessidade de inovação constante frente ao risco de resistência e à diversidade de espécies de vetores, contribuindo diretamente para o fortalecimento das políticas públicas de combate à doença de Chagas.
Em Helmintologia, a dissertação de Gabriella Parreiras Torres investigou o papel da proteína SmFES no ciclo de vida do Schistosoma mansoni, parasita causador da esquistossomose. Sob orientação da pesquisadora Marina de Moraes Mourão, o trabalho mostrou que a redução dessa proteína altera a resposta imunológica e o desenvolvimento das lesões hepáticas em animais infectados, além de comprometer processos ligados à reprodução e sobrevivência do verme.
Gabriella também avaliou compostos capazes de se ligar à SmFES e interferir no desenvolvimento do parasito. Algumas dessas substâncias reduziram a postura de ovos, a atração das larvas pelo caramujo hospedeiro e a liberação de cercárias, a fase infectante para o ser humano. Os resultados apontam a SmFES como alvo promissor para o desenvolvimento de novas estratégias de controle da esquistossomose, doença que ainda afeta milhões de pessoas no mundo.
Já no eixo de Protozoologia, a tese de Alessandra Mara de Sousa, orientada pelo pesquisador Rubens Lima do Monte Neto, resultou no desenvolvimento e validação do LeishID, um teste molecular baseado na técnica LAMP. A inovação do método está na capacidade de detectar e diferenciar as principais espécies de Leishmania que circulam no Brasil, como L. infantum, L. braziliensis e L. amazonensis, em tempo reduzido, com alta sensibilidade e especificidade.
O LeishID se mostrou eficiente em diferentes contextos: em biópsias de cães com leishmaniose visceral, em amostras humanas de leishmaniose tegumentar e até em insetos vetores. O teste apresentou índices de sensibilidade e especificidade superiores a 90%, além de compatibilidade com métodos simplificados de extração de DNA, o que o torna viável para uso em campo e em regiões com infraestrutura limitada. A ferramenta representa um avanço importante para o diagnóstico rápido e preciso da doença, contribuindo para o tratamento adequado dos pacientes e para o controle epidemiológico.
Para os organizadores do Prêmio SBP de Dissertações e Teses, os trabalhos submetidos demonstraram indiscutível qualidade e, certamente, contribuem para o fortalecimento da Parasitologia no cenário nacional e internacional. E o mais importante: contribuem para a promoção da saúde e a melhoria da qualidade de vida das populações afetadas por doenças parasitárias.